O IAM é ainda a maior causa de morte em pessoas idosas, aonde sua prevalência aumenta depois da sexta década de vida. No idoso, a manifestação clínica ausente ou atípica dificulta o manejo da doença
aterosclerótica coronariana. A situação de ocorrência de isquemia miocárdica sem dor, a
chamada isquemia assintomática ou silenciosa, é mais frequente no paciente idoso.
Considerando pacientes com síndrome coronariana
aguda, como infarto do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST, entre aqueles com
menos de 65 anos de idade, somente 11,1% não apresentam dor precordial, diferentemente
daqueles com mais de 85 anos de idade, entre os quais 43,2% não apresentam dor
precordial.
De fato, ocorre
aumento progressivo no intervalo entre o início do infradesnivelamento do segmento ST e o
início da angina com o aumento da idade, indicando
aumento do limiar de dor entre os mais velhos.
Quando ocorre um episódio de redução do fluxo sanguíneo coronariano, a primeira alteração é
o sofrimento do miócito, seguindo-se alteração de relaxamento miocárdico e
infradesnivelamento do segmento ST. A dor é a última manifestação da isquemia
miocárdica.
A maior prevalência de isquemia miocárdica assintomática ou com sintomas atípicos nos
idosos é explicada pelo maior limiar de dor relacionado às alterações nociceptivas e pela
grande prevalência de doenças como depressão e diabetes melito. Aumento do nível sérico de
beta-endorfinas também tem sido descrito nos pacientes com isquemia miocárdica
assintomática, entretanto existem estudos com
achados diferentes. Adicionalmente, pacientes com isquemia silenciosa apresentam
ativação nervosa central diferente daqueles com angina quando submetidos a estresse
isquêmico com dobutamina, predominando a ativação dos córtex frontal, ventral e
temporal. Curiosamente, a área talâmica, que é a
responsável pelo reconhecimento da dor, teve ativação semelhante entre os pacientes com e
sem angina.
A fibromialgia e a depressão são condições neuropsiquiátricas que interferem na sensação
dolorosa. Por vezes, idosos com queixa de dor precordial, com o diagnóstico de isquemia
miocárdica descartado, melhoram com o uso de antidepressivos. O contrário também pode
ocorrer, com idosos com dor atípica para isquemia miocárdica, geralmente atribuída à
depressão, terem doença coronariana significativa. Pacientes com depressão apresentam menor aderência ao tratamento
medicamentoso e mudanças de estilo de vida. Adicionalmente,a depressão pode causar alteração da função endotelial, desregulação do eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal, aumento da reatividade plaquetária e marcadores inflamatórios
com a interleucina 6.
Além disso, os pacientes com demência apresentam problemas de memória, aonde fica prejudicado a lembrança de dor precordial.
Entre os idosos portadores de insuficiência cardíaca, 50-70% apresentam a isquemia
miocárdica como etiologia, e parte considerável deles tem revascularização do miocárdio
prévia. Tanto a insuficiência cardíaca como a
revascularização do miocárdio reduzem o desempenho cognitivo, principalmente no domínio de
atenção. Dessa forma, caso o paciente apresente isquemia miocárdica, esse déficit cognitivo
pode prejudicar o relato das características da dor.
O diabetes melito é uma condição cuja
prevalência aumenta com a idade, assim como a neuropatia diabética, contribuindo para o quadro sem dor do IAM.
Manifestações atípicas de IAM no paciente idoso:
- dispnéia
- fraqueza geral
- delirium
- fadiga
- hipotensão arterial
- arritmias
- edema agudo de pulmão
- síncope
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